Como me libertei do álcool: Reescrevendo a minha história
15/02/2024 por Ricardo Gonz
Em 28 de dezembro de 2022, decidi mais uma vez tentar parar de consumir bebida alcoólica.
Confesso que estava desacreditado quanto à possibilidade de sucesso, pois já havia tentado várias vezes sem obter resultados.
Neste artigo, compartilho minha trajetória de libertação do álcool.
Embora não bebesse todos os dias e não pudesse ser considerado uma pessoa com alcoolismo severo, a falta de domínio sobre minhas ações relacionadas a essa tendência sempre me perturbou.
Por vários anos, travei uma batalha interna para controlar minha decisão de não beber, algo que me incomodava profundamente.
Nos dias seguintes ao consumo de bebida alcoólica, questionamentos repetitivos surgiam em minha mente:
- Por que não consigo tomar uma ação diante de algo que não quero mais em minha vida?
- Qual o sentido de integrar em meu organismo uma substância que diminui meu estado de presença e energia?
- Como uma substância pode ter mais força do que um ser humano dotado de inteligência e consciência?
Esses questionamentos, sem respostas claras, começaram muitos anos atrás e se intensificaram nos anos seguintes, principalmente depois que comecei a praticar meditação.
Finalmente, em 28 de dezembro de 2022, consegui superar minha compulsão pelo álcool.
Espero que essa leitura lhe ofereça insights, motivando-o a buscar maior domínio sobre suas escolhas e a direção de sua vida. Boa leitura.
– Alimentos que Causam Tristeza: A Gastronomia das Sombras
– Energia Ancestral: Introduzindo o Iskiate na Rotina Moderna
Como o Álcool Entrou em Minha Vida?
Acredito que comecei a consumir bebida alcoólica por volta dos 17 ou 18 anos. Até então, nunca havia bebido.
Essa realidade mudou durante uma festa de final de ano em minha antiga cidade, no interior de São Paulo, quando bebi pela primeira vez. Não me lembro exatamente como foi, mas alguém me ofereceu e eu aceitei.
Naquela festa, quase todos estavam bebendo e pareciam felizes, o que, acredito eu, me motivou a seguir o fluxo da tribo.
Em minha família, é comum o consumo de álcool em festas, envolvendo pais, tios, primos e pessoas próximas.
A presença do álcool em encontros familiares era uma constante, e a ideia de reunir a família sem ele não parecia uma realidade.
Portanto, observo que o ambiente em que fui criado contribuiu para que eu começasse a associar o álcool a festas, felicidade, celebração e diversão.
Reconheço minha responsabilidade em ter permitido a entrada do álcool em minha vida, assim como a responsabilidade de removê-lo.
No entanto, o contexto familiar, social e de ambiente facilitou minha decisão de beber naquela ocasião.
Naquela época não me foi apresentado um caminho alternativo; aquele era o único estilo de vida que eu conhecia.
Mudança de Ambiente, Amizades e Estilo de Vida
Como mencionei anteriormente, minha vontade em eliminar o álcool da minha vida se intensificou quando comecei a meditar.
Com a meditação, novas percepções surgiram e a consciência sobre minha energia começou a se aprimorar.
Por volta de 2016, já morava em Florianópolis, passando por um significativo processo de mudança de ambiente, após ter deixado minha cidade natal e meu emprego anterior no setor bancário.
Essa mudança de localidade teve um papel importante nesse processo.
Em Florianópolis, fiz novas amizades e conheci pessoas com um estilo de vida distinto daquele que eu estava habituado em São Paulo, especialmente pessoas mais conectadas com atividades físicas e em contato com a natureza.
Esses elementos foram fundamentais para minha transformação, embora ainda não representassem o aspecto central dela.
O Capitalismo e as Associações do Álcool
Desde os 18 até os 35 anos, o álcool esteve presente em minha vida. Eu o associava com festas, celebrações, momentos felizes e até mesmo assistindo a jogos de futebol.
Se olharmos com mais cuidado, percebemos que as empresas de bebidas alcoólicas influenciam o nosso subconsciente para associar o consumo de álcool a esses momentos alegres.
Preste atenção nas propagandas de cerveja, por exemplo. Elas costumam vincular o ato de beber cerveja com a diversão de assistir a um jogo de futebol.
O que é contraditório aqui é que o futebol é uma atividade física, que teoricamente poderia estar relacionada ao cuidado com a saúde.
No entanto, essas empresas promovem o oposto, ignorando os efeitos prejudiciais do álcool à saúde.
Essas associações não são acidentais.
Elas são estratégias cuidadosamente planejadas pelas empresas para aumentar suas vendas. Elas criam tendências culturais para lucrar mais, e ainda preferem que não pensemos sobre isso.
Infelizmente, essa prática não é nova e tem sido usada há muito tempo, inclusive pelas empresas de tabaco e muito recentemente pela nova economia da atenção, às redes sociais.
As empresas do setor de consumo entendem como funciona a mente humana. Elas sabem que somos influenciados por associações e memórias, e exploram nossas vulnerabilidades psicológicas.
Por outro lado, tenho percebido um movimento crescente de pessoas que estão buscando se libertar dessa mentalidade induzida.
Estas pessoas não querem mais que suas vidas sejam controladas por tendências culturais impostas e estão se manifestando contra isso.
A Compulsão e a Memória
Na tradição Yóguica, as memórias são diferenciadas de diversas formas, não se limitando apenas às que ficam registradas em nossa mente. Essas memórias vêm de muitas fontes.
Nosso corpo, por exemplo, tem a capacidade de registrar muito mais memórias do que nossa mente, acumulando uma grande quantidade de informações.
Com este conhecimento antigo em mente, é importante entender que as compulsões e tendências que possuímos não estão registradas somente em nossa psique, mas também em nosso corpo físico.
Um exemplo dessas memórias é a genética, transmitida dentro das famílias, que determina várias características físicas e psicológicas de uma pessoa.
Ao tentar fazer escolhas mais conscientes ou abandonar certas tendências, como por exemplo: deixar de consumir substâncias específicas, mudar hábitos ou acordar mais cedo todas as manhãs; podemos até obter algum sucesso inicialmente, mas enfrentamos dificuldades para manter essa mudança a longo prazo.
Isso ocorre porque o corpo é repleto de compulsões, e sem desprogramar o excesso de memórias físicas, será um grande desafio, ou até mesmo impossível, realizar uma mudança duradoura.
Como Sadhguru explica em seu ¨livro Karma¨:
A determinação mental, por si só, não é capaz de erradicar a memória física.
Para que uma mudança seja duradoura, é necessário eliminar o excesso de memória e desprogramar as repetições de hábitos, tendências e compulsões adquiridas ao longo da vida.
Programas de Intensidade e a Desprogramação de Memórias
Quando participei do Primal em 2019, um processo intensivo de 7 dias voltado à cura da criança interior, meu objetivo era eliminar os condicionamentos parentais e sociais que prejudicavam minha vida.
Naquela época, confesso que ainda não tinha a intenção de eliminar o álcool da minha rotina.
Algumas compulsões permaneciam em um ponto cego dentro de mim, característica comum de certas tendências, que muitas vezes não percebemos, nem seus impactos negativos em nossas vidas.
Semanas após minha participação no Primal, senti-me muito mais presente, sereno, corajoso e energizado.
Mas também notei grandes mudanças em relação às tendências e compulsões: elas haviam perdido a força.
Experimentei a sensação de conseguir fazer escolhas de forma mais consciente, com maior discernimento e clareza.
Em 2022, ao participar do Path of Love, outro poderoso processo de meditação de 7 dias, vivenciei um contato profundo e autêntico comigo mesmo e percebi dessa vez, que algumas compulsões haviam desaparecido.
Como um explorador do autoconhecimento, busquei compreender como essas transformações foram possíveis após participar dessas imersões.
Um dos aspectos especiais desses processos é o intenso movimento corporal, como nas meditações dinâmicas que, em alguns momentos, podem ser bastante exaustivas.
A intensa atividade física nesses programas tem a capacidade de eliminar os excessos de memórias físicas, apoiando a transformação e cessando compulsões e tendências a longo prazo.
Após essas imersões, senti que havia reduzido uma quantidade significativa de memórias, e desde então, minha vida tem fluído com muito mais leveza e facilidade.
Por isso que o Programa Origens Intensive possui uma alta carga de movimento corporal, incluindo as escaladas e outras práticas. Sua estrutura e fundamentos foram baseados nos conhecimentos originários da Ciência Yóguica.
Como o Álcool Afeta Negativamente o Nosso Corpo?
Há uma crença comum de que um copo de cerveja ou uma taça de vinho pode ser benéfico para a saúde, mas isso é um mito.
Um estudo publicado na revista “The Lancet” em 2018 concluiu que não existe um nível seguro de consumo de álcool. Este estudo revelou que qualquer quantidade de álcool aumenta o risco de problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares.
O álcool contribui para o aumento da pressão arterial, arritmias cardíacas e pode causar danos ao músculo cardíaco. Em resumo, ele afeta negativamente o funcionamento do coração.
Segue uma lista de alguns efeitos prejudiciais do consumo de álcool na saúde:
- Interfere significativamente na qualidade do sono.
- Reduz a fase do sono REM, essencial para memória e aprendizado.
- O consumo de álcool antes de dormir está associado a um sono fragmentado e menos reparador, podendo causar distúrbios do sono a longo prazo.
- O álcool pode ter efeitos devastadores no desenvolvimento cerebral dos jovens.
- O consumo precoce de álcool está ligado a um maior risco de desenvolvimento de dependência alcoólica na vida adulta.
- Prejudica a capacidade de aprendizado e cognição.
- Afeta negativamente a capacidade de tomar decisões.
- Desidrata o corpo, afetando órgãos responsáveis pela desintoxicação.
Espero que esta lista o motive a experimentar um período sem consumo de álcool e sentir os benefícios para o seu próprio corpo.
Elevando a Vitalidade: Vivendo sem Álcool
Sinto a necessidade de destacar as principais mudanças na minha saúde, após mais de um ano sem consumir bebida alcoólica. Entre elas:
- Aumento significativo da minha energia e disposição.
- Maior clareza mental, com menos sensações de medo e preocupações.
- Aumento da presença no momento.
- Notável desinchaço a nível corporal.
- Aprimoramento dos sentidos, principalmente o paladar e olfato
- Melhoria nas relações interpessoais.
- Fortalecimento da relação com minha esposa, alcançando uma melhor comunicação.
- Eliminação de outras tendências nocivas, tanto físicas quanto mentais.
- Crescimento da autoconfiança.
- Melhorias notáveis no foco, atenção e cognição.
- Redução da irritabilidade em situações inesperadas.
- Diminuição da ansiedade e do estresse.
- Melhoria na qualidade dos meus pensamentos e emoções.
- Sensação de maior autonomia para viver a vida conforme desejo.
- Formação de novas amizades mais autênticas.
- Aumento da produtividade mental e física
Essa transformação pode ser considerada uma mudança de estilo de vida, trazendo benefícios que sempre desejei.
Pode parecer surpreendente, mas esses benefícios surgiram a partir de apenas uma escolha em minha vida.
Sem dúvida, essa foi uma das escolhas mais desafiadoras e importantes que já fiz.
Troca de Tendências e o Tédio
Eliminar uma compulsão exige uma maestria interior fenomenal.
Acredito que apenas algumas pessoas, com um alto grau de meditatividade, entendimento e controle sobre seus sistemas (corpo, mente/emoções e energia), conseguem alcançar isso.
Por esse motivo, é mais fácil substituir compulsões por outras tendências mais alinhadas com o modo de vida que você deseja adotar.
Nas diversas vezes em que tentei parar de consumir bebida alcoólica, acabei voltando a beber devido ao tédio. Este geralmente se manifesta quando tentamos remover algo da nossa vida, sem substituí-lo por outra coisa.
Nesse processo de eliminação de tendências, é bem provável também que sua mente aumente outras compulsões como forma de equilíbrio.
Isso aconteceu comigo, aumentando o consumo de café por exemplo, fique esperto e atento com as artimanhas da sua mente.
Nos primeiros meses, uma das minhas estratégias foi trocar a cerveja por algo mais saudável, como a Kombucha, um tipo de chá fermentado que possui propriedades probióticas benéficas para a saúde, semelhante ao Kefir.
Essa abordagem tem funcionado muito bem para mim, e hoje já tenho controle sobre a decisão de não beber nada, se assim escolher.
Alcançar esse domínio é libertador, é como se eu tivesse quebrado correntes que antes me aprisionavam.
Conclusão
Chegar a este ponto exigiu austeridade e uma constante exploração interna. Acredito que quebrar ciclos que nos aprisionam nunca será fácil, mas tenho certeza de que é possível.
Como Sadhguru expressa em seu ¨livro Karma¨:
“Não importa quem foram meus ancestrais,
Nem qual é minha substância Kármica,
Não importa qual foi meu passado,
Decidi para onde estou indo.
Determinei que estou avançando rumo à minha libertação!”
Concluo este artigo incentivando você a investir em autoconhecimento e a se conhecer melhor.
Participe de programas intensivos. Eles podem proporcionar um salto quântico em sua qualidade de vida, presença e nível de consciência.
Não desista e não se sinta sozinho. Enfrente suas compulsões e tendências; é possível superá-las. Deseje essa mudança.
Não será fácil, se for preciso peça ajuda.
Salve a transformação, Om Shanthi!
Referências:
– Artigo Ciêntífico: No level of alcohol consumption improves health / The Lancet
– Livro Karma: O guia de um yogi para criar o seu destino / Sadhguru
Sobre o autor
Veja também
09/02/2024 por Ricardo Gonz
Escalar em Arenales se mostrou uma experiência reveladora. No vale das Cordilheiras dos Andes, um ambiente livre de distrações e…,24/11/2023 por Ricardo Gonz
Reviva a sabedoria ancestral com o Iskiate, uma bebida pré-colombiana, e descubra como esta receita simples pode trazer benefícios surpreendentes…23/11/2023 por Ricardo Gonz
Você sabia que a tristeza, uma emoção complexa, pode ser influenciada por vários fatores, incluindo a dieta? Seja de forma…, ,13/11/2023 por Ricardo Gonz
A escalada não é apenas um esporte, é uma metafórica lição de vida que se apresenta a cada via, onde…