Escalada em Arenales e as Revelações de um Yogi
09/02/2024 por Ricardo Gonz
Escalar em Arenales se mostrou uma experiência reveladora.
No vale das Cordilheiras dos Andes, um ambiente livre de distrações e interferências, pude observar de forma mais clara os movimentos do meu ego, manifestando-se em pensamentos, intenções e ações.
Neste artigo, compartilho como foi desafiador, intenso e espiritual escalar nos Andes, mas, ao mesmo tempo, uma experiência de crescimento e autoestudo.
O Poder da Montanha: Enfrentando o Frio em Arenales
Estar em um lugar extremo e remoto como Arenales é um convite para aprimorar a flexibilidade da mente e adaptar-se às condições do ambiente, envolvendo principalmente a altitude e o clima, mais especificamente o frio.
Logo no primeiro dia, chegamos ao vale por volta das 19:00 horas e percebi que ainda estava claro, notando que a noite chegaria mais tarde do que o usual no Brasil.
Por volta das 21:00 horas, o sol se pôs e a montanha demonstrou seu poder: o frio chegou com força, a temperatura caiu rapidamente, deixando-me muito desconfortável, mesmo estando preparado com roupas técnicas apropriadas.
Na primeira noite, dormindo em minha barraca, o frio intensificou-se por volta das 4:00 da manhã, aumentando o desconforto e impedindo que eu voltasse a dormir.
Ao amanhecer, ao procurar um lugar para meditar, mesmo sob o sol, o vento frio ainda me incomodava, mas o silêncio era receptivo para um momento de introspecção.
Após alguns minutos meditando e sentindo o vento frio em meu rosto, um insight se revelou, mostrando que grande parte do meu desconforto em relação ao frio era devido à minha resistência ao ambiente, a não soltar o controle sobre o que não se pode controlar.
Nas manhãs frias seguintes, meditei deitado dentro da minha barraca, uma alternativa para essas aventuras, onde muitas vezes falta um local protegido para a prática.
– Por que precisamos estar em contato com a natureza?
– Como Meditar Deitado: Um Guia para Iniciantes
Harmonia e Adaptabilidade: O Legado do Yoga
A habilidade de se adaptar é intrínseca ao ser humano; nossa evolução prova isso, mas as praticidades, privilégios e o estilo de vida atual têm nos desconectado dessa capacidade fundamental para nosso crescimento interior.
Como Yogi, sei que o cerne dessa filosofia é união e harmonia.
Ao praticar, aprendemos a unificar corpo, mente e espírito, o que amplia nossa capacidade de nos adaptarmos a novos ambientes, desafios e situações.
O Yoga ensina a aceitar e abraçar a mudança, vendo-a como uma oportunidade para crescimento pessoal.
Os dias seguintes ainda foram repletos de desafios, mas consegui navegar diante muitos acontecimentos que surgiram.
A Conexão Humana nas Montanhas de Arenales
Apesar das muitas diferenças, gostos e aversões das pessoas em Arenales, observei que em um ambiente extremamente remoto manifestamos um rico senso de cooperação.
Foi belo e espiritual ver como as pessoas se unem em um ambiente remoto e desconhecido.
As pessoas estavam sempre dispostas a ajudar, seja oferecendo orientação sobre as montanhas, as vias de escalada, doando alimentos ou convidando para os muitos jantares coletivos que aconteceram.
Era, de fato, um estado de união, o Yoga na prática.
Foi incrível perceber que ainda existem pessoas dispostas a deixar um pouco a conveniência do dia a dia para explorar a natureza selvagem e a si mesmas.
Este tipo de escalada exige muito conhecimento técnico, físico e psicológico. O clima castiga o corpo e a mente se você não estiver preparado.
Neste tipo de escalada, o desapego às praticidades é necessário.
Onde o Corpo Sofre e o Espírito Cresce
Minha pele nos primeiros dias começou a secar muito, dando a sensação de envelhecimento rápido e meus lábios racharam pela exposição ao sol e ao vento seco.
Tive que usar protetor labial constantemente para me adaptar ao ambiente. Mesmo com a sensação de envelhecimento, internamente sentia-me mais forte do que nunca.
A escalada em Arenales exigia um movimento constante do meu corpo.
Por exemplo, o ato de agachar repetidas vezes para entrar e sair da barraca fortaleceu significativamente minhas pernas.
Além disso, a trilha para as necessidades básicas e para buscar água demandava movimento contínuo, tudo isso a mais de 2.600 metros de altitude, requerendo um esforço ainda maior.
Sinto que todos os músculos do meu corpo foram ativados.
Vivenciando o Shinrin Yoku em Arenales
Como praticante da Terapia da Floresta (Shinrin Yoku), compreendo a necessidade de ser cuidadoso com as informações e conteúdos que permito absorver por meio dos cinco sentidos.
Por isso, já esperava que uma imersão na natureza, como esta, fosse uma forma eficaz de desintoxicação sensorial e mental, proporcionando equilíbrio e clareza, especialmente por ser um ambiente livre de distrações.
É notável como retornei dessa experiência mais centrado, focado e com maior presença.
Além disso, dormir no chão em contato direto com a terra por vários dias equilibrou meu sistema digestório, levando-me a ir ao banheiro até três vezes por dia, uma mudança significativa em relação ao que estava acostumado antes dessa experiência.
Conclusão
As lições aprendidas em Arenales vão além da escalada física; a capacidade de abraçar a mudança, a valorizar a força interior, o valor de desapego e a perceber a beleza da conexão humana, mesmo nas condições mais desafiadoras, são lições universais que levo comigo.
Tenho muita gratidão às pessoas que estavam comigo, como minha esposa Pati e meus amigos(as) Kati, Isa e Emílio!
Salve a transformação e as aventuras.
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