Estruturas Tóxicas de Consumo e Hábitos de Fuga

03/10/2025 por Ricardo Gonz

Ambiente, Estilo de vida

Existem estruturas criadas para manter as pessoas em ciclos de repetição, vícios e hábitos que não necessariamente nascem de uma escolha consciente, mas de gatilhos cuidadosamente construídos.

Essas são as estruturas tóxicas de consumo.

O padrão escondido

Tabaco, álcool e alimentos ultraprocessados parecem universos diferentes do uso excessivo de redes sociais. Mas todos seguem a mesma lógica: criar dependência, normalizar o excesso e transformar a repetição em estilo de vida.

  • O cigarro foi vendido como sinônimo de liberdade.
  • O álcool, como chave para sociabilidade e celebração.
  • O ultraprocessado, como solução prática para a rotina corrida e super produtividade.
  • O conteúdo digital diário, como caminho para visibilidade e conexão.

Na prática, todas essas empresas geram lucro a partir da captura da atenção, da falta de autoconhecimento e do desejo humano, mesmo que o custo seja o seu pulmão.

O mecanismo comum

Por trás dessas estruturas, existe um mesmo funcionamento: gatilho → consumo → recompensa → repetição.

  • Tabaco e álcool → gatilho químico (nicotina, álcool).
  • Ultraprocessados → gatilho do açúcar, gordura, sal e falta de tempo.
  • Redes sociais → gatilho psicológico (notificação, feed infinito, medo de ficar de fora).

O resultado é semelhante: consumo repetitivo, dificuldade de interromper; que dá a sensação de prazer no curto prazo, mas enfraquece no longo prazo.

É fato que essas estruturas tóxicas de consumo não se importam com nossa saúde.

O preço invisível

Esses ciclos não cobram apenas o corpo e a mente, mas corroem também valores, relações familiares e até a forma como enxergamos a vida.

O cigarro não trouxe só doenças respiratórias e cardiovasculares, ele roubou anos de vida, afetou famílias inteiras e deixou gerações com marcas profundas. Hoje, o tabagismo continua sendo uma das principais causas evitáveis de morte no Brasil: são cerca de 175 mil óbitos por ano, além de um custo estimado em R$ 153 bilhões anuais ao sistema de saúde. E o mais impressionante: uma simples conversa de 3 minutos durante uma consulta médica poderia reduzir o número de fumantes em meio milhão, economizando quase R$ 1 bilhão ao SUS.

O álcool não gerou apenas acidentes e dependência química, ele esteve presente em brigas, separações, violências que poderiam ter sido evitadas. Só em 2019, o consumo de álcool esteve ligado a mais de 104 mil mortes no Brasil — o equivalente a 12 vidas perdidas por hora.
O impacto não parou aí: o país gastou aproximadamente R$ 18,8 bilhões com as consequências desse consumo, sendo R$ 1,1 bilhão apenas em atendimentos hospitalares e ambulatoriais do SUS.

Menos consumo significaria não apenas milhares de vidas preservadas, mas também um enorme alívio para a saúde pública e para toda a sociedade. E os dados mais recentes confirmam que o problema continua alarmante.

“Em minha visão, a dependência precisa ser vista como um desafio coletivo e não individual.”

Segundo o próprio Ministério da Saúde, não existe consumo seguro de álcool. Cada redução faz diferença: menos mortes, menos sofrimento, menos pressão sobre o sistema público de saúde.

De forma resumida o tabaco veio para acabar com nossos pulmões, o álcool para acabar com nosso fígado (cerca de 90% do álcool é metabolizado pelo fígado), os alimentos ultraprocessados para inflamar nosso sistema digestório e causando sentimentos de tristeza.

E agora chegou a vez das redes sociais e tecnologias viciantes corroerem o nosso cérebro, cognição e acabar com nossa capacidade de se conectar com pessoas reais.

O marketing vendeu tudo isso como liberdade, status ou modernidade. Mas o que estamos recebendo é justamente o oposto: menos saúde, menos presença, menos liberdade de escolha.

E é nesse espaço entre promessa e realidade que mora o preço invisível.

Essas estruturas tóxicas afetam e moldam sociedades inteiras. Quando olhamos para isso, entendemos que não se trata só de escolhas pessoais, mas de um modelo coletivo de vida que precisa ser questionado e mudado a partir da elevação da consciência humana.

O marketing como reforço

Essas estruturas não se mantêm sozinhas. O marketing tem papel central:

– Normaliza o comportamento.

– Associa o produto a algo aspiracional.

– Reforça a repetição como “natural” e até necessária.

Foi assim com as propagandas glamorosas de cigarro, com a ideia de que “felicidade tem gosto de refrigerante”, e hoje com o imperativo de que “para existir, você precisa postar todos os dias”.

“O marketing não vende só produtos, vende hábitos e muitas vezes hábitos que nos prendem.”

Se você quiser entender como as corporações fazem isso, recomendo a leitura do livro Hooked. Em outras palavras, ele mostra como é possível viciar pessoas em serviços e produtos, criando hábitos automáticos e inconscientes. O interessante é que o autor apresenta essa padronização de hábitos como algo positivo — uma visão bem distante da perspectiva do Yoga, que incentiva escolhas conscientes e nos convida a não sermos reféns delas.

– O Pensamento Oposto: Como Acalmar a Mente

– Os 7 Médicos que Ninguém pode Recusar

Responsabilidade e o Hábito de Fuga

Mas existe também um outro lado nessa história: a nossa responsabilidade.
Porque, se por um lado essas estruturas são projetadas para nos prender e induzir a um estilo de vida tóxico, por outro lado somos nós que, muitas vezes, buscamos nelas um alívio rápido.

Como resume o médico especialista em vícios Gabor Maté:

“Não pergunte por que o vício, mas por que a dor.

Todos os vícios carregam consigo uma ferida — nem sempre visível, talvez nas pequenas negligências da infância ou no silêncio de emoções não expressadas.

Alguns traumas são grandes, explícitos; muitos são sutis, cotidianos. Reconhecer isso é parte da nossa responsabilidade pessoal — é olhar para dentro com compaixão, não para julgar, mas para curar.”

Segundo Gabor, por trás de qualquer comportamento compulsivo, existe sempre alguma forma de dor não reconhecida, às vezes um trauma evidente, outras vezes pequenos traumas silenciosos que se acumulam ao longo da vida.

Precisamos nos olhar com honestidade, para entender o que nos leva a buscar anestesia nessas estruturas, reconhecer isso não é sobre culpa, mas sobre coragem.

Esse é o primeiro passo para transformar padrões nocivos em escolhas conscientes, fazer o reconhecimento.

Minha própria história de libertação do álcool começou com o desejo de ter domínio sobre minhas ações. Cresci em um ambiente onde o consumo era frequente entre meus familiares, principalmente em festas comemorativas. Lembro de parentes chegando a perder a consciência nesses momentos — e eu, ainda criança, assistia a tudo como se fosse algo normal, até saudável.

Com o tempo, percebi a associação construída por anos entre celebrar a vida e ter uma cerveja na mão. Mas por trás desse hábito, reconheci algo mais além: os traumas de não ter sido ouvido quando criança, de não ter tido oportunidades reais de me expressar.

No meu caso, reconheci que o álcool sempre foi um hábito de fuga.

Uma solução meditativa: Isha Kriya

Existe um processo meditativo simples, poderoso e ao alcance de todos chamado Isha Kriya, criado por Sadhguru. Ele pode ajudar muito no processo de desidentificação das compulsões da mente e do corpo, aquelas que nos mantêm presos nos hábitos nocivos.

Basta reservar cerca de 12-15 minutos por dia. A prática começa com respirações guiadas e mantras como “Eu não sou o corpo, eu não sou a mente”, criando um espaço interior entre quem somos e os pensamentos/emoções automáticos.

Estudos mostram que uma única sessão já reduz humor negativo, tensão, ansiedade e depressão. Em 6 semanas de prática diária, é possível notar melhorias mais profundas, como mais clareza mental, mais estabilidade emocional, menos reação automática aos estímulos ao nosso redor.

Essa meditação guiada está disponível gratuitamente no Youtube, sendo recomendada ser feita 1x por dia durante 90 dias ou 2x por dia durante 48 dias. A meditação começa no minuto 4:44 e termina no 18:33.

Essa meditação oferece acolhimento para explorar esses espaços internos que costumamos evitar. Não é sobre forçar mudança, mas sobre reconhecer: “isso não sou eu”, “isso é um impulso, não meu ser”.

Caminho alternativo

Romper com estruturas tóxicas de consumo não é simples, porque elas já estão embutidas em nossa cultura, muitos de nós já nascemos nessas circunstâncias. Mas é possível criar outras narrativas:

  • Menos quantidade, mais qualidade (minimalismo).
  • Menos pressa, mais profundidade (meditação).
  • Menos estímulo, mais presença (contato com a natureza).

Todos os programas e workshops que ministramos na Climb4Life vão para o mesmo caminho, sugerir um estilo de vida mais consciente e saudável.

Acreditamos fortemente que a comunicação também é um ato de cuidado. Ao oferecer menos postagens, oferecemos melhor. Ao criar espaço entre uma publicação e outra, criamos silêncio e tempo para reflexão ❤️.

E você? Já parou para observar quais estruturas guiam seus hábitos hoje — e se são realmente suas escolhas ou apenas repetições automáticas? Esse talvez seja o primeiro passo para criar um estilo de vida mais consciente

Ricardo Gonz

Ricardo é Fundador do Origens Intensive, há mais de 6 anos guia pessoas em jornadas de autoconhecimento por meio da escalada, meditação e ciência Yóguica.

Formado em Administração de Empresas, é professor de Yoga pela Kailash Yoga (Florianópolis) e possui certificação internacional em Bodhi Medicine, sob orientação do Dr. Nirdosh Cora, integrando medicina convencional, leis biológicas, cura natural e meditação para promover equilíbrio e bem-estar.

Sobre o autor

Ricardo é Fundador do Origens Intensive, há mais de 6 anos guia pessoas em jornadas de autoconhecimento por meio da escalada, meditação e ciência Yóguica. Formado em Administração de Empresas, é professor de Yoga pela Kailash Yoga (Florianópolis) e possui certificação internacional em Bodhi Medicine, sob orientação do Dr. Nirdosh Cora, integrando medicina convencional, leis biológicas, cura natural e meditação para promover equilíbrio e bem-estar.

Veja também