Força mental: O Papel do Pensamento na Escalada
31/10/2023 por Ricardo Gonz
Na noite anterior sonhei que estava escalando. Na minha frente havia um lance desafiador a ser feito, minha força mental estava em dúvida, com boa chance de queda, e eu poderia optar por tentar guiar o trecho ou fazer em top rope.
Lembro de me sentir paralisado com o medo, principalmente pela possibilidade iminente do fracasso. Desisti de me arriscar e escolhi permanecer na zona de conforto.
Colocando à prova minha força mental
O dia amanheceu e me preparei para a escalada “real”, uma via tradicional na ponta do Rapa em Florianópolis. Era a primeira vez que me expunha a uma experiência dessa e estava entusiasmado porém receoso, pois sabia que esse estilo de escalada inclui diferentes desafios (especialmente psicológicos) e pode conter surpresas.
Após chegarmos ao setor e nos prepararmos, senti minha mente se dispersando e, assim que comecei a escalar rumo ao desconhecido, o medo e as inseguranças vieram à tona.
A ansiedade estava drenando minha energia, resultando em duas quedas logo no início. Já pensava em desistir.
Com esforço cheguei na primeira ancoragem, embora tenha usado mais força do que o necessário, pude descansar um pouco e respirar mais aliviado. Depois de alguns minutos realizando os procedimentos de transferência, logo minha dupla estava escalando e eu estava novamente sozinho com meus pensamentos.
Desconforto Versus Força Mental
Enquanto o aguardava, senti um cansaço súbito e comecei a bocejar incessantemente. Estranhei, pois estava bem descansado e alimentado.
Foi aí que percebi: minha mente estava tentando me convencer a desistir, a não enfrentar mais desapontamentos. Respirei fundo e me dei conta da oportunidade que tinha de treinar minha mente a lidar com situações desconfortáveis como esta.
Os próximos trechos foram desafiadores, mas gratificantes, exigindo técnicas de escalada em fendas e diedros. Me sentia cada vez mais confiante. Até que, diante do último lance, um boulder exposto de três a quatro metros, me vi na mesma encruzilhada do meu sonho.
Decidido a assumir o protagonismo, avaliei os riscos e decidi assumir a responsabilidade.
No cume, percebi como a escalada me ensinou que a mente pode ser tanto nossa aliada quanto nossa inimiga, mas que ao encararmos os nossos medos e o desconhecido, desenvolvemos nosso poder pessoal.
No cotidiano, assim como na escalada, a identificação com os pensamentos pode amplificar os problemas e nos paralisar. No entanto, ao enfrentá-los com determinação e coragem, podemos nos tornar protagonistas de nossa história e moldar nosso destino de maneira consciente e responsável.
“No final da jornada, lembramo-nos apenas de uma batalha: a que travamos contra nós mesmos, o verdadeiro inimigo, aquele que nos define”.
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